sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Feliz Ano Novo

Para 2011... com a ajuda de um contador de histórias!

Era uma cidade antiga e pequena onde havia as coisas que todas as cidades antigas e pequenas tinham: casas brancas de taipa, janelas e portas de madeira grossa, galinhas e cabras andando pelas ruas, os fogões de lenha acesos o dia inteiro, café com queijo e biscoito de polvilho pelo meio da tarde e cadeiras de vime na calçada ao cair da tarde. E havia também uma banda de música que era a alegria da molecada quando passava e fazia retretas no coreto nas noites de domingo. Vivia também nessa cidade um músico compositor que alimentava a banda com as suas composições. Relata-se que suas composições tiveram um destino inglório. Morto o maestro e não sabendo que destino dar-lhes, a família decidiu deixá-las guardadas no porão. Aconteceu, entretanto, que por descuido de alguém a porta do porão ficou aberta. Um cabrito, passando por ali e vendo a porta aberta, resolveu entrar para ver o que havia dentro do porão. Qual não foi a sua surpresa quando se viu diante daquela refeição deliciosa formada pelas partituras do compositor, que ele devorou inteiras. Conta-se que esse mesmo compositor estava na cama, vivendo seus últimos momentos de vida, toda a família reunida ao seu redor esperando suas últimas palavras e o desfecho. Nesse momento, a banda veio marchando e tocando pela rua do maestro. Foi então que ele, quando a banda passou defronte a sua casa, sofreu um estremeção, seu rosto se contorceu aflito e ele fez menção de que desejava falar. Todos se aproximaram, levantaram-no do travesseiro para que falasse com mais facilidade. E foi isto que ele falou: “A clarineta desafinou o si bemol...”. E morreu.
ALVES, Rubem A morte do compositor In: Do Universo à Jabuticaba, São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2010, p.201-202.
As mensagens enviadas sobre o Ano Novo normalmente vêm repletas de desejos de possibilidades de mudanças...
Na passagem de ano, a contagem regressiva tenta impelir que a esperança renasça talvez ‘das cinzas’ e é com alegria misturada com uma ‘certa tristeza’ que comemoramos a chegada de mais um ano NOVO.
A mistura é reveladora... é como uma pequena faísca (presa na cinza) que evidencia a morte e o nascimento, a perda e a possibilidade.
Nosso contador de histórias nos insere num universo... temos praticamente um endereço... uma casa... temos alimento para o corpo e para a alma... Partituras escondidas no porão para alimentar cabritos e cabras que estão surpresos com o banquete... Opa! Partitura como comida de cabrito?! Cabritos surpresos com o banquete?! Que mistura é esta que o contador de histórias nos faz comer?!  Uai, já não somos mais humanos somos quase como cabritos... perdidos sem saber o que nos alimenta... Papel pelo papel... Comida pela comida... Música pela música... Ainda nos resta um suspiro... Estamos agora ao lado de um moribundo compositor... é o corpo, sempre o palco das nossas emoções... da energia vital... que reclama... que se incomoda e busca expressão, rompe com a coisa pela coisa e busca dar viva-voz a um desafino, que se revela particular, a um des-encontro, que sempre estará presente na mistura constante (não só da passagem de ano) entre a perda e a possibilidade!
Neste sentido considerando as rupturas vividas, assim como todas as possibilidades a partir delas, também a serem vividas, é que enviamos a todos que nos tem acompanhado nestes primeiros meses de trabalho no blog nossa mensagem de um FELIZ 2011.!!!!!



Happy New Year !!!!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Feliz Natal

Psicanálise e Escrita deseja a todos que privilegiam o nosso trabalho um Feliz Natal e que continuem a nos visitar, pois suas participações são de extrema importância para nossas produções, e que a subjetividade humana jamais seja esquecida.
Que o humano existente em cada um esteja repleto de luz e amor. 

  Merry Christmas 

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Cotidiano

A contemporaneidade da relação professor-aluno: que crise é esta?
Neste ano várias ocorrências em escolas particulares e públicas têm chamado nossa atenção e proposto uma possibilidade de reflexão: tanto professores quanto alunos têm presenciado, quando não sofrido, agressões expressivas em sala de aula.
De acordo com matéria recente (09/12/2010) na Folha de São Paulo assim como na mídia televisiva estudos vêm evidenciar que 24% dos professores já sofreram ou presenciaram agressões físicas em sala de aula. Por outro lado também vêm se apresentando um número crescente de professores que estão realizando atos de agressão e descontrole verbal significativo na relação com os alunos.
Folha de São Paulo:
Como exemplo recente (julho de 2010), o Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix qualificou a morte brutal de Kássio Vinícius Castro Gomes, de 39 anos, professor de Educação Física da mesma instituição, pelo estudante Amilton Loyola Caires, 23 anos como um "episódio isolado". No entanto entidades de classe e até mesmo o Congresso Nacional batem na tecla de que casos pontuais como esse têm virado rotina no ambiente escolar. Especialistas ainda alertam que, ao tratar as agressões na sala de aula como situações esporádicas e fora de um contexto maior, as escolas mascaram o problema e criam terreno fértil para a violência e a ação de alunos e professores.
 No sentido jurídico ocorre a tentativa de pôr limites na selvageria que invade as instituições de ensino, e desta forma dois projetos de lei tramitam no Senado, para incentivar a cultura de paz nas escolas e estabelecer punições severas aos agressores.
O Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro-MG), representante dos profissionais de escolas particulares, articula ação de protesto pelo assassinato de Kássio Vinícius, que será definida hoje. Mas o diretor da entidade, José Carlos Arêas, adianta que o episódio faz parte de cenário de terror denunciado pelo Sinpro em pesquisa divulgada em 2009. O estudo aponta que 62% dos 686 entrevistados presenciaram ou sofreram agressão verbal e 24% deles, violência física. “Esse é um reflexo da sociedade que também aparece dentro da escola. Mas, no caso da rede privada, esses casos ficam abafados pelos interesses econômicos. Além disso, o aluno de escola particular se vê, muitas vezes, como um segundo patrão do professor. Muitos profissionais não denunciam porque temem perder o emprego.”
Tais fatos, que não são comuns apenas para as escolas particulares, assim como não são comuns apenas no Brasil, vêm propor uma reflexão sobre a escola como palco de produções subjetivas contemporâneas que carecem de visibilidade sobre o que urge, mas não consegue ainda ser tomado em consideração.

Neste caminho de reflexão sugerimos a leitura do artigo A SUBJETIVIDADE DOCENTE EM TEMPOS DE CRISE DE AUTORIDADE de Marcelo Ricardo Pereira, da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Este trabalho foi apresentado no IX Congresso Nacional de Psicologia Escolar e Educacional em julho de 2009 na Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo (capital).
Boa leitura a todos os interessados!!! Caso alguém tenha alguma contribuição, dentro desta temática, a mesma será bem vinda.

Leituras e Releituras

A subjetividade docente em tempos de Crise de Autoridade
Marcelo Ricardo Pereira
O autor Marcelo Ricardo Pereira vem nos mostrar desde tempos medievais até os dias de hoje como têm se apresentado as relações no campo da (é a relação com a) educação. Neste sentido ele atenta para a condição da figura de autoridade na relação professor-aluno  na contemporaneidade.
Marcelo Pereira pontua que “O advento da modernidade trouxe em sua valise a necessidade de educar as massas, de fazer valer o projeto antropocêntrico, liberal e burguês de garantir o processo civilizador ao máximo de pessoas possíveis” .
Com isso “(...) a partir do século XVI, as reformas religiosas, as idéias iluministas e as revoltas republicanas exerceram fundamental influência para a criação de ciências e profissões que disseminassem e levassem a cabo o projeto da mística modernizadora em contraste com os valores impingidos pelo antigo regime e pela ordem medieval”. O professor, neste caso foi encarregado de trazer a “boa nova”.
As escolas das cidades apareceram sob uma urgência do século XIX em criar um novo panorama social com ares republicanos e racionais. Contudo surge a educação barata que representa parte da solução desse problema. “Introduz-se, pois, uma maquinaria pedagógica com fins de normalização desse quadro novo e complexo. Através da escola viu-se a possibilidade de moldar cientificamente hábitos morais e produzir uma sociedade cada vez mais disciplinada e civilizada”.
Fundou-se assim a imagem do professor como moralmente imaculada e, igualmente, irresistível, cuja atração magnética transformaria os infantes das classes trabalhadoras e dos que se encontravam à margem da sociedade em sujeitos éticos dispostos a responder de maneira adequada à ordem vigente. Cabe lembrar que mais tarde foram esses infantes das classes trabalhadoras, que educaram seus filhos, a fim de torná-los novos mestres, e tal feição acabou por fazer do professor uma figura suspeita capaz de estabelecer uma utopia disciplinar e moral.
“Em outros termos: de um lado, a função professoral não diferencia o professor dos demais irmãos de uma sociedade republicana de iguais - iguais em sua condição de insuficientes, mortais e precários; do outro, o professor necessita descolar-se da massa fraterna, diferenciar-se dela e bancar-se imaculado, modelar e manter-se exemplo de grandeza para a imberbe geração que a ele se subordina.”
Acontece que a mística moderna parece errar a mão quando insiste em igualar ou apagar as diferença. O mundo republicano, o mundo dos supostamente iguais e livres nivela mestres e não-mestres, tomando-os como iguais. Tal fato os joga, de chofre, num declínio político da autoridade, ou “falta de autoridade” causa fundamental da crise educacional de nossos tempos.
Há de se reconhecer que, mesmo sob revés, a autoridade é tida como um pilar e um símbolo político-social da civilização que nos acolhe. Ela se encontra por si desgastada, e desafiada. Se as revoluções da época moderna, a exemplo da francesa, da inglesa, da norte-americana e, no Brasil, da conjuração mineira, significaram ou defenderam uma ruptura radical com os modos de vida que as antecederam, elas também não deixaram de ser gigantescas tentativas de reparação.
De um lado, elas propiciaram a efetivação na vida comum das idéias que emergiam à época: razão, direitos do homem, igualdade, liberdade, mobilidade social, república, fim da escravidão; por outro, elas buscaram renovar o fio rompido da tradição, restaurando tais instituições mediante a fundação de novos organismos políticos, mas assegurando que esses organismos mantivessem algo de divino.
Marcelo Ricardo Pereira vem propor por meio de seu texto, que o ato de ensinar deveria ser mais provisório do que absoluto (ou isto ou aquilo), mais contingente do que necessário, mais circunstancial do que planejado. ‘Aquele que ensina deve salvar nossa capacidade humana de pensar’, de produzir saberes, não tanto com base nas boas técnicas pedagógicas, que inflacionam mais frustrações do que conquistas, mas muito mais com base na sua experiência e arte de viver. São elas que restituem a memória, as escolhas, a lei e induzem aos desejos. A autoridade política do professor está não em se fazer como aquele que detém o saber categórico, o código inviolável de uma moral, mas como aquele que ativa o desejo de saber por também desejá-lo.
De outro modo, se o mestre se põe como o grande sabedor, como o condutor de massas acéfalas, o que ele produz é o vazio do saber pelo silêncio do desejo. Diferentemente do passado, que estabeleceu referências externas e transcendentes, hoje nossas referências são mais terrenas, por isso, mais circunstanciais e provisórias. Ainda assim, devem ser sempre evocadas, para que alunos sejam provocados a estabelecerem as suas próprias, a manterem-se curiosos, a compreender e experimentar.


 Escólio: Cristianne Spirandeli Marques e Paula Gonçalves

A SUBJETIVIDADE DOCENTE EM TEMPOS DE CRISE DE AUTORIDADE de Marcelo Ricardo Pereira, da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Este trabalho foi apresentado no IX Congresso Nacional de Psicologia Escolar e Educacional em julho de 2009 na Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo (capital).

sábado, 11 de dezembro de 2010

Vídeo



Enquanto preparamos uma postagem nova assistam esse vídeo da série Glee.

É lindo.

Algumas limitações não são necessariamente o que nos prende e nos impede de fazer e ser aquilo que desejamos.Precisa-se de muito mais para que  humanos sonhadores de luta e garra  desistam de um sonho.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Reflita...

Metade

Oswaldo Montenegro


Que a força do medo que tenhoNão me impeça de ver o que anseioQue a morte de tudo em que acreditoNão me tape os ouvidos e a bocaPorque metade de mim é o que eu gritoMas a outra metade é silêncio.Que a música que ouço ao longeSeja linda ainda que tristezaQue a mulher que eu amo seja pra sempre amadaMesmo que distantePorque metade de mim é partidaMas a outra metade é saudade.Que as palavras que eu faloNão sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervorApenas respeitadasComo a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentosPorque metade de mim é o que ouçoMas a outra metade é o que calo.Que essa minha vontade de ir emboraSe transforme na calma e na paz que eu mereçoQue essa tensão que me corrói por dentroSeja um dia recompensadaPorque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorrisoQue eu me lembro ter dado na infânciaPor que metade de mim é a lembrança do que fuiA outra metade eu não sei.Que não seja preciso mais do que uma simples alegriaPra me fazer aquietar o espíritoE que o teu silêncio me fale cada vez maisPorque metade de mim é abrigoMas a outra metade é cansaço.Que a arte nos aponte uma respostaMesmo que ela não saibaE que ninguém a tente complicarPorque é preciso simplicidade pra fazê-la florescerPorque metade de mim é platéiaE a outra metade é canção.E que a minha loucura seja perdoadaPorque metade de mim é amorE a outra metade também.