quarta-feira, 14 de novembro de 2012

ENSAIOS....


ZONA INTERMEDIÁRIA


Fabio Herrmann (2001) ao retornar de forma explicativa o conhecimento produzido pela teoria dos campos constata que a investigação da superfície das representações é uma das ideias motrizes de sua teoria. Esta descoberta nasce do pensamento deslocado do seu eixo produtor, ou seja, autor e leitor são postos pela escrita em condição de reflexão de como o pensamento se produz, e neste sentido, ele vai aos poucos compilando o conhecimento produzido tornando-o mais acessível. Como consequência inesperada, Fabio obtém a despretensiosa descoberta da importância da superfície das representações na sua teoria. Assim inicia-se o segundo capítulo do livro: “Zona intermediária”.
A zona intermediária se produz pelas representações que visam organizar nossas ideias. Ela engloba os hábitos de pensamento do homem comum, que revelam algumas regras constituintes. Assim esta zona estende-se da superfície das representações ao inconsciente. O que o autor deixa claro é que na composição do pensamento e das emoções se denuncia a correspondência inconsciente. Mas este inconsciente é tratado na teoria dos campos como relativo ou campo. Entende-se por inconsciente relativo ou campo, o fato de não definir uma entidade final aos achados da investigação da zona intermediária.  O valor desta concepção é que podemos transitar por vários campos, onde cada um produz regras que determinam nossas ideias, relações, sentimentos etc. Ou seja, o campo é o que nos faz ser. 
Fabio Herrmann ainda neste capítulo nos aponta a necessidade de reflexão da forma interpretativa praticada por várias teorias psicanalíticas, que por vezes saltam precocemente de sentidos e emoções, ao inconsciente. Este movimento pode acabar sepultando a investigação da zona intermediária carregada de riqueza produtiva que clama por consideração. Fazer tradução simbólica – processo repensado criticamente na Teoria dos Campos é dar estes saltos interpretativos, apenas respondendo a teoria já existente, que embasa tal trabalho, tornando-se a interpretação, desta forma, um molde geral a ser adaptado à subjetividade humana.
Podemos então indagar...  O que muda neste ato interpretativo?  Bem, a variação consistirá no “jogo de cintura” criativo do analista, na tentativa de considerar a exata medida da produção subjetiva do paciente. Quem sabe, neste exercício o próprio analista se gratifique até, por conseguir comprovar o que herdou com sua doutrina psicanalítica preferida. 
Mas um convite a de ser feito aqui: Preste atenção na construção do autor sobre a temática da zona intermediária! Este aspecto inicia o estilo particular de conceber a interpretação na Teoria dos Campos.
Neste capítulo vamos também conhecer como a investigação da zona intermediária ajudou o autor a trilhar seu caminho adentro  da psicanálise. Ou seja, como o autor foi lapidando seu olhar ao conhecimento psicanalítico que dispunha para seu uso. Esta iniciativa culminou na criação de alguns lemas para seu uso pessoal, no que diz respeito a uma postura critica diante do que já havia produzido e do que foi produzido dentro das diversas teorias psicanalíticas.
Na segunda edição do livro “Introdução à Teoria dos Campos”, Herrmann (2004, p. 23) permitirá ao leitor encontrar quais foram estes lemas criados demonstrando a importância de nunca acreditar numa dedução teórica de processos inconscientes sem ter tido o pensador em ação a oportunidade de demonstrar sua capacidade de analisar a superfície da consciência; fala da importância também de depositar confiança nas teorias que estão por nascer do que as simplesmente deduzidas de outras teorias (processo rico, mas de difícil construção) e por fim, esse exercício vale pela possibilidade de não pertencer a um grande pensador, mas a todo aquele que se dispor a praticar o uso do método psicanalítico de deixar surgir do fenômeno sua forma particular e tomar em consideração para daí sim teorizar a sua exata medida de produção, ou seja, o que este tem a nos revelar sobre a constituição do psiquismo humano.
Para ilustrar este empreendimento investigatório da zona intermediária, Fabio Herrmann apresenta o conceito de Fascínio. Partindo da concepção sexual e depois generalizando. O fascínio demonstra toda beleza e naturalidade do ser humano, tanto quanto alimenta a garantia da condição ideal esperada do indivíduo. Neste sentido o fascínio é sustentado por outros dois sentimentos obscurecidos, que servem como sustentáculos a ele. São eles: o asco e o ridículo.
 Suponhamos que o polo da relação humana escorregue para o asco. O indivíduo que passa pelo surto psicótico demonstra o lado obscurecido da subjetividade. A exteriorização de algo tão íntimo poderá nos afetar e ser refutado de forma repugnante, aspecto inimaginável a se mostrar de forma tão indisfarçada.
Para exemplificar a situação de cair no ridículo, basta pensarmos naquele amigo da empresa que fica paparicando o chefe, elogiando até o espirro do endeusado. Ou seja, de um lado predomina a exposição indisfarçada da interioridade gerando asco, enquanto a exteriorização da intencionalidade como fator óbvio gera ridículo. Nosso autor nos atenta para o fato de que o equilíbrio entre estas duas condições produz o fascínio.
Como são ensaios não pretendo esgotar os assuntos do capítulo. Neste caso fica a critério do leitor continuar esta caminhada. Cada um destes assuntos teve maior elaboração nos escritos do livro. Esta apresentação pessoal foi sintética, para que o leitor vá se habituando ao que irá encontrar no livro ou em outras possíveis leituras de autoria de Fabio Herrmann.

HERRMANN, F. Introdução a Teoria dos Campos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004, Capitulo II

Um comentário:

  1. Muito bom! Dentre vários méritos, Fábio Herrmann não teve receio de colocar em questão e teorizar temas da vida cotidiana, indo além dos temas clássicos já estudados fartamente pela psicanálise.

    Adriana Fayad

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