ZONA
INTERMEDIÁRIA
Fabio
Herrmann (2001) ao retornar de forma explicativa o conhecimento produzido pela
teoria dos campos constata que a investigação da superfície das representações
é uma das ideias motrizes de sua teoria. Esta descoberta nasce do pensamento
deslocado do seu eixo produtor, ou seja, autor e leitor
são postos pela escrita em condição de reflexão de como o pensamento se produz,
e neste sentido, ele vai aos poucos compilando o conhecimento produzido
tornando-o mais acessível. Como consequência inesperada, Fabio obtém a despretensiosa
descoberta da importância da superfície das representações na sua teoria. Assim
inicia-se o segundo capítulo do livro: “Zona intermediária”.
A
zona intermediária se produz pelas representações que visam organizar nossas
ideias. Ela engloba os hábitos de pensamento do homem comum, que revelam
algumas regras constituintes. Assim esta zona estende-se da superfície das
representações ao inconsciente. O que o autor deixa claro é que na composição
do pensamento e das emoções se denuncia a correspondência inconsciente. Mas
este inconsciente é tratado na teoria dos campos como relativo ou campo.
Entende-se por inconsciente relativo ou campo, o fato de não definir uma
entidade final aos achados da investigação da zona intermediária. O valor desta concepção é que podemos
transitar por vários campos, onde cada um produz regras que determinam nossas
ideias, relações, sentimentos etc. Ou seja, o campo é o que nos faz ser.
Fabio
Herrmann ainda neste capítulo nos aponta a necessidade de reflexão da forma
interpretativa praticada por várias teorias psicanalíticas, que por vezes saltam
precocemente de sentidos e emoções, ao inconsciente. Este movimento pode acabar
sepultando a investigação da zona intermediária carregada de riqueza produtiva
que clama por consideração. Fazer tradução simbólica – processo
repensado criticamente na Teoria dos Campos é dar estes saltos
interpretativos, apenas respondendo a teoria já existente, que embasa tal
trabalho, tornando-se a interpretação, desta forma, um molde geral a ser
adaptado à subjetividade humana.
Podemos
então indagar... O que muda neste ato
interpretativo? Bem, a variação
consistirá no “jogo de cintura” criativo do analista, na tentativa de considerar
a exata medida da produção subjetiva do paciente. Quem sabe, neste exercício o
próprio analista se gratifique até, por conseguir comprovar o que herdou com
sua doutrina psicanalítica preferida.
Mas um convite a de ser feito aqui: Preste atenção na construção do autor sobre
a temática da zona intermediária! Este aspecto inicia o estilo particular
de conceber a interpretação na Teoria dos Campos.
Neste
capítulo vamos também conhecer como a investigação da zona intermediária ajudou
o autor a trilhar seu
caminho adentro da
psicanálise. Ou seja, como o autor foi lapidando seu olhar ao conhecimento
psicanalítico que dispunha para seu uso. Esta iniciativa culminou na criação de
alguns lemas para seu uso pessoal, no que diz respeito a uma postura critica
diante do que já havia produzido e do que foi produzido dentro das diversas
teorias psicanalíticas.
Na
segunda edição do livro “Introdução à Teoria dos Campos”, Herrmann (2004, p.
23) permitirá ao leitor encontrar quais foram estes lemas criados demonstrando
a importância de nunca acreditar numa dedução teórica de processos
inconscientes sem ter tido o pensador em ação a oportunidade de demonstrar sua
capacidade de analisar a superfície da consciência; fala da importância também
de depositar confiança nas teorias que estão por nascer do que as simplesmente
deduzidas de outras teorias (processo rico, mas de difícil construção) e por
fim, esse exercício vale pela possibilidade de não pertencer a um grande
pensador, mas a todo aquele que se dispor a praticar o uso do método
psicanalítico de deixar surgir do fenômeno sua forma particular e tomar em
consideração para daí sim teorizar a sua exata medida de produção, ou seja, o
que este tem a nos revelar sobre a constituição do psiquismo humano.
Para
ilustrar este empreendimento investigatório da zona intermediária, Fabio
Herrmann apresenta o conceito de Fascínio. Partindo da concepção sexual e
depois generalizando. O fascínio demonstra toda beleza
e naturalidade do ser humano, tanto quanto alimenta a garantia da
condição ideal esperada do indivíduo. Neste sentido o
fascínio é sustentado por outros dois sentimentos obscurecidos, que
servem como sustentáculos a ele. São eles: o asco e o ridículo.
Suponhamos que o polo da relação humana
escorregue para o asco. O indivíduo que passa pelo surto psicótico demonstra o
lado obscurecido da subjetividade. A exteriorização de algo tão íntimo poderá
nos afetar e ser refutado de forma repugnante, aspecto inimaginável a se
mostrar de forma tão indisfarçada.
Para
exemplificar a situação de cair no ridículo, basta pensarmos naquele amigo da
empresa que fica paparicando o chefe, elogiando até o espirro do endeusado. Ou
seja, de um lado predomina a exposição indisfarçada da interioridade gerando
asco, enquanto a exteriorização da intencionalidade como fator óbvio gera
ridículo. Nosso autor nos atenta para o
fato de que o equilíbrio entre estas duas condições produz o fascínio.
Como
são ensaios não pretendo esgotar os assuntos do capítulo. Neste caso fica a
critério do leitor continuar esta caminhada. Cada um destes assuntos teve maior
elaboração nos escritos do livro. Esta apresentação pessoal foi sintética, para
que o leitor vá se habituando ao que irá encontrar no livro ou em outras
possíveis leituras de autoria de Fabio Herrmann.
HERRMANN, F. Introdução a Teoria dos Campos. São
Paulo: Casa do Psicólogo, 2004, Capitulo II