A crítica epistemológica na Psicanálise brasileira: o conceito de inconsciente em Isaías Melshon e Fabio Herrmann, por José Carlos G. Mohallem (Psicanalista, mestrando em Psicologia Clinica pela PUC-SP e membro do Centro de Estudos da Teoria dos Campos – CETEC).
O autor propõe uma reflexão que já tem estado presente em obras como de Renato Mezan (A Vingança da Esfinge, 1995, p.308) sobre a saída da Psicanálise da fase de latência – sobretudo com a obra de Herrmann, Birman e Jurandir Freire, ao passar a “falar em seu próprio nome e propor ao debate idéias originais”.
Neste sentido Mohallem enfatiza em Herrmann o resgate da essência da operação freudiana, isto é, do método da psicanálise e em Melsohn, uma crítica radical às concepções perceptualistas e sensorialistas herdadas do empirismo inglês. Tanto Herrmann quanto Melsohn problematizaram o saber psicanalítico em suas bases, como por exemplo, no conceito de inconsciente.
Para Melshon não há um Inconsciente onde estão os objetos reais (não é o cavalo em si o objeto que camufla a fobia - como no caso do pequeno Hans, na obra de Freud).
Tanto de acordo com Melsohn quanto Herrmann é próprio da consciência, e da sua forma primitiva de conceber as emoções, a projeção dos impulsos nos objetos, pois os impulsos são parte integrante do ato de consciência; ou como diria Herrmann – leitor de Melsohn, “por trás do cavalo temido não se esconde a figura do inconsciente do pai poderoso, senão que este, o pai está inteiramente no cavalo: o cavalo é o modo de conceber o pai, em sua apavorante plenitude, inconcebível de outro modo” (TAFFAREL, M. e SISTER. B Isaías Melsohn: a psicanálise e a vida. São Paulo: Escuta, 1996, p. 11)
A busca de Herrmann por uma raiz comum subjacente às diversas teorias propostas dentro da Psicanálise resultou na tese de que o “o inconsciente é o conjunto de regras estruturantes da consciência, logo ocultas”, que constituirá um campo. (Herrmann, F. Andaimes do Real: Um Ensaio de Psicanálise Crítica, 1976, p.07, no prelo).
Assim a especificação do que é o Inconsciente para Herrmann é fornecida pela interpretação. Para este autor a interpretação rompe o campo que sustentava as representações do sujeito, revelando suas regras constituintes, alargando as possibilidades da experiência concreta da consciência.
Neste sentido para Herrmann - de acordo com Mohallem, Inconsciente e Consciência não são opostos, são apenas momentos reversos em relação à ruptura do campo. Estabelece-se assim, que o Inconsciente Psicanalítico para Herrmann só existe quando interpretado, quando se torna consciência possível, resultado da operação interpretativa. O texto, portanto, vai revelando novas considerações não só sobre o Inconsciente, mas sobre os processos envolvidos na interpretação. Vale a leitura e reflexão!!!
Escólio: Cristianne Spirandeli Marques e Paula Gonçalves
Referência
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